A luz do aquário deixava o cabelo de Bete com um colorido esverdeado. O rosto também esverdeado. Uma Bete marciana. Engraçado que ela parecia alta por causa do cabelão todo. E não era, era baixinha, assim um palmo a menos que ele. EAlex estava bem perto dela, tão perto que sentiu o perfume de Bete, um daqueles perfumes ou potinhos esquisitos que ela sempre estava tirando da bolsa e passando e cheirando e olhando.
Alexandre deu a volta no aquário, foi apontando os peixes através do outro lado do vidro:
- Este eu sei o nome. É o espada. Este também é espada.
- Espada preto ou vermelho?
- Os dois. Só muda a cor, mas o nome é o mesmo.
Apontou o outro.
- Este aqui, no fundo. Está vendo? É o paulistinha. Tem listra preta, igual na bandeira.
Os peixinhos ficaram nadando entre o rosto de Alex e os olhos de Bete. Os olhos deles acabaram seguindo o mesmo peixe e se encontraram. O silêncio era tão forte; gozado ele reparar que o silêncio podia mais do que conversar com ela.
Apontou o cascudo.
- Esse aí é o faxineiro do aquário. Ele limpa o vidro, come a sujeira.
- Deixa eu ver.
Bete deu a volta no aquário, também se ajoelhou, na mesma altura que ele. O cabelão da menina raspou o rosto de Alex e ele achou que parecia mesmo orelha de pequinês. De cachorro peludo.
Alexandre continuou apontando o peixe.
- Você rói unha! - Bete reparou no seu dedo mastigado e quase sem unha . Sorriu.
- E daí? - Alex escondeu a mão.
Ficaram de pé.
- Daí que você não acha feio?
- Sei lá. - ele tentou esconder a mão no bolso que não existia.
- Comer unha deixa barriga estufada.
- Que burrice! Eu não como unha. Eu só fico roendo e depois cuspo fora. Você é tonta mesmo!
E ele se afastou. Foi se jogar no sofá, enfiou as mãos debaixo da almofada, com a irritação esquisita que sempre sentia diante dela.
- Eu ainda copio a matéria pra você e você me xinga.
- Eu não xinguei.
- Claro que xingou - ela sentou no mesmo sofá. Alex se afastou pra outra ponta.
- Também, cada coisa boba, "comer unha estufa barriga"... - imitou a menina, como se ela fizesse cara de debiloide pra dizer isso.
- Roer unha é nojento, sim. Ouviu? - e imitou um Alex que não existia, entortando a boca.
- Ficar nhoc, nhoc, nhoc e cuspir a beiradinha.... tem mais um cotoco, aqui. E rói, de novo!
Era engraçado, mas Alex não achou graça.
- Nojenta é a caspa que você joga na minha carteira! Parece um macaco, de tanto cabelo!
Ela abriu a boca pra responder. E continuou de boca aberta. Fechou. Um silêncio forte. E sem que Alex esperasse, Bete se jogou pra cima dele, no sofá, como se fosse encher de tapa e bater e brigar.
Alex segurou seu braço; quase que num primeiro instante deu mesmo foi uma porrada na menina, mas o "é uma menina" ainda passou em sua cabeça. Ela estava com raiva, fazia força pra soltar as mãos. O cabelo havia entrado em sua boca, então ficava gozado, porque ela falava e tentava tirar o cabelo da boca.
- Grosso, mal-educado, bobo, tonto...
Tantas palavras, tantas. O rosto tão próximo de Bete, ou foi se lembrando da enquete, de fugir de casa, ou foi, sei lá tudo junto? Pareceu pro Alex que o único jeito de fazer Bete ficar quieta era aquele. E enquanto ela falava, xingava, seus rostos ficavam cada vez mais perto um do outro; enquanto ela ainda tentava soltar as mãos, Alexandre aproximou, decidido, os seus lábios dos dela e deu o beijo.
Um beijo rápido, de lábios que se encostaram junto com cabelo e saliva. Por um instante Alex fechou os olhos, talvez Bete também tenha fechado os seus. Nenhum dos dois entendia bem o que havia acontecido, deu foi uma moleza, calor.
Alex soltou os braços da menina, que puxou devagar as mãos. As maçãs do rosto de Bete, muito vermelhas. Ela passou a língua pelos lábios, talvez para ter certeza do que havia acontecido. Ou não havia acontecido?... E então saiu correndo.
Marcia Kuptas, O primeiro beijo.
A vida é uma escola sem fim onde encontramos um amor e fazemos muitas amizades. Por: Lili Campos
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